Evangelho de João 9. 1- 41
Boa noite querido leitor!!! Estamos muito felizes por este novo ano que se inicia, e mesmo atrasados gostaríamos de desejar a vocês um feliz ano novo!!!
Queremos iniciar este ano com uma reflexão muito provocante que se encontra no Evangelho de João 9. 1- 41.
Boa leitura.
Uma das características mais marcantes de nossas sociedades contemporâneas é a busca e o desejo pelo sucesso (queremos ser bem sucedidos, isto dito em outras palavras queremos “ter em detrimento de ser”). Valorizamos a estética, dizendo para nós mesmos: o importante é estar belo (queremos encontrar a fonte da juventude) demonstrando o nosso terror com relação a velhice e a morte. Vale salientar que esta busca é insaciável.
No entanto, esta busca desenfreada e egoísta pela beleza tem um preço muito caro, pois, marca profundamente a vida de muitas pessoas que estão á margem de nossa sociedade, e que ao invés de buscarem a beleza, correm atrás ao menos de sua dignidade.
Esta mesma sociedade que as pessoas se articulam para realização de seus ideais, muitas vezes se torna totalmente perversa e egoísta por excluir dos seres humanos a possibilidade de se humanizar, quando os esvazia de sua dignidade. Enquanto uns consomem, outros passam fome, e para estes últimos à única coisa que lhes resta é a luta pela sobrevivência.
Neste momento, faz- se necessário um adendo: é muito fácil perceber isto, quando olhamos o moralismo fingido de nossa sociedade frente algumas mudanças que acontecem na mesma. Nós dizemos que vivemos em uma sociedade democrática, no entanto, este discurso não passa de uma falácia de nossa sociedade neoliberal, que cria uma falsa imagem de liberdade, quando na verdade vivemos dentro de cadeias intransponíveis. Digo isto por conta da dificuldade que temos em aceitar a regeneração de um “criminoso, uma prostituta, e o morador de rua”, que buscam se reintegrar a nossa sociedade. Ou seja, excluímos estas pessoas não concedendo a estas a possibilidade do recomeço, salvo algumas exceções. No entanto nos esquecemos que a mesma sociedade que exclui o marginal (criminoso, prostituta e o morador de rua) é a mesma que os cria.
Olhando para este panorama de privação e exclusão podemos dizer que existe uma classe de pessoas em nosso mundo, que algumas delas nunca cometeram crime algum. Todavia, vivem a margem de nosso mundo, esta classe de pessoas podemos chama- las de deficientes, seja lá qual for o tipo. Admitamos!!!!!! Nós temos dificuldades em aceita- las transitando em nossa sociedade.
E as narrativas bíblicas principalmente nos evangelhos, trata de muitas pessoas com diversos tipos de deficiências que viviam marginalizadas pela sociedade que habitavam, e que, no entanto, tiveram as suas vidas mudadas ao se encontrarem com Jesus (Atos 10. 38).
E a narrativa que lemos nos convida a refletir, notamos que este é um texto muito pouco lido em nossas igrejas, todavia, é uma das narrativas dos Evangelhos que mais me chama a atenção, porque ela traz luz a algumas coisas que estão presentes na igreja e na sociedade e que eu gostaria de pontuar pelo menos duas á nível de nossa reflexão.
1. Buscar explicar o inexplicável
Vejam que neste diálogo a primeira pergunta que é feita a Jesus pelos seus discípulos é de ordem moral e religiosa, (Quem pecou? v. 2) Este tipo de pergunta nos revela uma mente marcada pela culpa, ou seja, produto da religião. Esta forma de pensar a fé deixa as pessoas cativas e pessimistas com relação a si mesmas, pois, as mesmas vivem presas à ideia de pecado. Ou seja, tudo o que acontece de trágico na vida esta associada a punições divinas por causa de nossos pecados. Inclusive as enfermidades e deficiências.
Todavia, queremos enfatizar que existem algumas situações que trazem prejuízos (deficiências) para as vidas de muitas pessoas, por conta de ações imprudentes delas mesmas ou de outras pessoas. Mas dizer que Deus as colocou nesta situação, como dizem alguns irmãos e pregadores, é um absurdo.
Neste sentido, dizer que esta visão de Deus esta errada, não é negar a consciência do pecado (Miserável homem que sou!!, Rm 7. 24, 25), mas é termos maturidade para reconhecermos que Deus não é nosso inimigo, mas nosso parceiro, conscientes que vivemos em um mundo que as tragédias muitas vezes nos acompanharam. (Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de faze- los prosperar e não lhes causar dano, planos de dar- lhes esperança e um futuro. Jeremias 29. 11)
Dito isto, temos que tomar cuidado para não cometermos o erro dos “amigos de Jó” diante de nosso próximo, mas termos sempre a postura libertadora de Jesus, postura esta que traga uma boa nova (Evangelho) de vida e esperança para as pessoas se encontram nesta situação.
Ora, podemos dizer que podemos dar um novo significado na vida do outro, que o traga para mais perto de Deus (Salmo 40. 1- 4), promovendo desta forma salvação (temos aqui uma outra ideia de salvação, ou seja, salvação não no sentido espiritual, mas existencial).
Diante do inexplicável e do inevitável, devemos nos esquecer de nossas teodiceias[1], a única coisa que podemos fazer é nos calar e somente estar perto do outro na certeza que podemos trazer cura para alma destas pessoas, com a ajuda do Espirito Santo.
2. Dando novos significados à vida
É muito interessante este texto, porque nele Jesus esvazia toda a culpa que rodeava a vida daquele homem (nem ele, nem seus pais pecaram, v. 3 p. a), dando um novo significado à vida do mesmo (mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele v. 3 p. b), ou seja, a deficiência já não era mais uma maldição divina, mas uma circunstancia que não era causada por Ele “Deus”, mas, algo que pode ser usado por ele para que se manifeste a glória Dele.
Podemos dizer que muitas pessoas são provas cabais disto que Jesus falou, e que superaram a si mesmas, indo além dos preconceitos, e que arrancam aplausos de todos nós. Este é o caso do cantor italiano Andrea Bocelli que apesar da cegueira encanta multidões com musicas que tocam o nosso coração, como “Con te Partiro”, por exemplo. Quem nunca ouviu apenas uma das milhares de musicas produzidas pelo genial compositor alemão Ludwig Van Beetoven, que era surdo. Muitas vezes passeando pelo nosso país (pela televisão, pela internet ou pessoalmente) e percebemos na cidade de Ouro Preto (Minas Gerais) obras de arte com uma perfeição extraordinária, que nos encantam, do artista plástico de Aleijadinho, mas poucos sabem que ele tinha uma doença degenerativa nas articulações, que trouxeram muitas dores na vida deste gênio.
Como eles existem muitos outros exemplos que fazem com que glorifiquemos a Deus. Aleluia!!! Exemplos como estes, nos fazem perceber que Deus ainda faz milagres. Todavia, é preciso uma observação neste ponto, pois, milagre para nós não é somente quando Deus cura uma pessoa com um problema que para a medicina é impossível, mas o milagre também acontece quando Deus faz que uma pessoa compreenda que o seu problema apesar de irreversível, pode glorificar o nome Dele, e estes milagres estão por aí...
Para sermos igreja de Deus, temos que andar nos passos de Jesus, resgatando vidas que estão de certa forma esquecidas, nas latas de lixo da história (desculpem- nos pela veemência dos termos usados), dando dignidade as mesmas (reciclando- as, ou seja, dando nova vida as mesmas). Não existe nada mais frustrante na vida do homem do que ter a sua dignidade roubada. E não existe nada mais curador do que o amor que vem de Deus em Jesus e que é revelado em nós 1 Jo. 3. 16.
Pois, uma coisa é certa, que animo teremos para enfrentar a vida e a sociedade tendo em mente que Deus é meu inimigo? Com certeza não teremos animo nenhum. Mas se ele esta ao meu lado como o meu parceiro eu posso enfrentar as dificuldades da vida e até mesmo a morte (Se Deus é por nós quem será contra nós? Rm. 8. 31)
Sejamos sinceros, nós não temos o poder que Jesus tinha de ordenar que cegos enxerguem, que paralíticos andem, que surdos, ouçam, mas, podemos sim amar estas pessoas e todos os que nos cercam devolvendo a estes a dignidade e a esperança que o mundo um dia roubou destas.
Charles G. Finney comentando Atos 1. 8, diz: “Aquilo que manifestamente receberam como o supremo, o coroador e o meio vital para o sucesso foi o poder de prevalecer com Deus e o homem, o poder de firmar impressões salvadoras nas mentes dos homens.
Podemos concluir, afirmando que este poder pode fazer que nós sejamos agentes recicladores de Deus neste mundo, aonde as pessoas são tratadas não como seres humanos muitas vezes, mas como objetos. E este é o nosso desafio: “firmar impressões salvadoras nas mentes destas pessoas” que o mundo despreza.
Amém...
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