Problemas e desafios para a
missão urbana no século XXI
Introdução
Na
atualidade são diversos os problemas levantados pelos teólogos que, preocupados
com os fenômenos contemporâneos que ocorreram e ocorrem em nosso país e no mundo,
como por exemplo: O porquê que a mensagem do evangelho perdeu o seu valor em
nossa sociedade ocidental?
A
partir deste questionamento nascem outros como: Será que a mensagem cristã
perdeu a sua capacidade de iluminar e de dar sabor, e poder desta forma
testemunhar e anunciar o Cristo?
A
partir destes questionamentos e de outros nasceram diversas respostas para dar
sentido a estas questões, com o fim de que a mensagem do Evangelho alcance os
corações dos seres humanos e possa nortear as suas vidas.
O
presente artigo tem a mesma pretensão, buscar pensar o evangelho a luz dos
fenômenos urbanos de nossa época. Para isto, buscaremos resgatar a figura
histórica de Jesus, com o objetivo de aprender com o mesmo quais foram os
caminhos encontrados por ele para responder aos seus contemporâneos na
sociedade que ele vivia e que deram rumos para a propagação de sua mensagem.
Depois veremos como se comportaram os seus discípulos diante dos questões
sociais de seus respectivos tempos até chegarmos a nossa época, aonde
buscaremos pensar sobre os desafios da igreja na atualidade e as relações entre
Evangelho e cultura.
1.
O Jesus palestino
A
partir deste momento nos reportaremos a Bíblia com o intuito de ao nos
aproximar- mos da mesma, percebermos a forma que Jesus e seus apóstolos se
comportaram frente aos desafios de sua época, a fim de tirarmos algumas lições
que serão de fundamental importância para a nossa reflexão, uma vez que
entendemos que é a partir do evento Cristo que nasce a nossa missão.
Hoje
em nossos dias ouvimos falar sobre a pessoa de Jesus (cultura ocidental) e não
fazemos ideia de quem ele foi realmente (os historiadores que o digam), hoje
nós conhecemos um Jesus famoso que virou celebridade no cinema, nas peças
teatrais, mas isto é um erro de interpretação bíblica, pois, se lermos os
relatos bíblicos perceberemos que este palestino que andava nas ruas
empoeiradas de Jerusalém não era tão famoso assim. Neste sentido, buscaremos
nos aproximar da figura histórica do Jesus palestino, tentando compreender o
máximo de quem ele foi e como viveu. Logo após faremos uma reflexão sobre
evangelho e cultura.
Jesus
era um desconhecido fora de sua terra natal. No entanto, antes dele um profeta
muito sério apareceu naquelas redondezas, e este era João Batista. Este dizia
que o reino de Deus estava próximo e exigia conversão daqueles que o ouviam. Ao
vasculhar o A. T., a comunidade de Mateus percebeu nos oráculos de (Isaias 40,
3): Vós do que chama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as
suas veredas” (3, 3). Lucas, concede a João uma entrada solene: “A palavra do
Senhor foi dada a João filho de Zacarias, no deserto” (Lc. 3, 2). Inseriu- o na
grande história de seu tempo: Soam nomes de Tibério Cesar, Pôncio Pilatos,
Herodes e seu irmão Filipe, Lisanias, Anás e Caifás. Um quadro solene. No
entanto, devemos entender que esta solenidade foi algo posterior na vida deste
profeta.
Depois
de Jesus ter ultrapassado as fronteiras da morte e ter experimentado
profundamente sua vida, as igrejas depois deste período fizeram duas narrativas
simbólicas (as Genealogias), com o fim de liga- lo com o inicio da humanidade (Lucas)
e com o os primórdios do povo de Israel na pessoa de Abraão (Mateus).
Podemos perceber nos relatos evangélicos que existe uma
identificação muito grande entre as mensagens de Jesus e João Batista.
Com relação a Jesus compreendemos segundo os relatos
bíblicos que Jesus seria o Filho de Deus descido do céu com o fim de comunicar
a mensagem de Deus aos homens. Portanto, compreendemos que aqui a questão
geográfica e histórico não faz a menor diferença com relação á construção de
sua mensagem. Uma vez que a mesma tem a sua origem na eternidade de Deus. A
encarnação, portanto, não passaria de uma condição essencial para Deus falar na
pessoa do filho.
Ao assumir a nossa condição, fez- se sujeito a tempo e
espaço e a cultura.
1.
1. Contexto sociopolítico e religioso
O
contexto sociopolítico e religioso que Jesus inicia o seu ministério, foi um momento
muito conturbado que eclodiu na grande rebelião judaica de 66, seguida no ano
70 da nossa era com a destruição do templo de Jerusalém pelo general Tito,
filho do imperador romano Vespasiano.
Neste
momento a palestina estava ocupada pelos romanos (63 a. C), época que Pompeu
plantou seu quartel general em Jerusalém.
Roma
dava total liberdade cultural e religiosa. Todavia, era bastante intolerante
com relação a rebeliões de ordem politica (Pax romana).
Esta
ocupação deu novos rumos à história judaica, ou seja, foi determinada por
relações usurpadoras de palacianos com o triunvirato. Este período é marcado
pelos grandes impostores e caçadores do poder, um cenário perfeito para
a ascensão da dinastia dos Herodes. O rei Herodes o grande era um politico
muito habilidoso e com isto (aquele da matança dos inocentes) conquistou a
confiança dos romanos.
Na
época de Jesus, o reino de Herodes havia sido dividido em uma tetrarquia entre
os seus filhos. Jesus se opôs ao quadro de dominação imposto por estes
governantes e como todo o profeta pagou um alto preço por isto.
Ao
contrario da postura de Jesus, os religiosos de sua época não estavam
interessados pelas questões politicas com medo de suscitar a ira dos romanos,
que em Jerusalém era representada pelo procurador romano, Pilatos.
Antes,
durante, e depois da vida de Jesus a palestina foi agitada por vários motins
populares de protestos contra a dominação politica e econômica romana, dos
quais se sucederam diversos massacres. Herodes Arquelau e Pilatos dentre outras
autoridades romanas foram protagonistas de alguns massacres.
Os
evangelhos estão pouco preocupados com as questões politicas de sua época, cita
poucas vezes estes relatos, um dos poucos relatos que mostram este cenário de
violência esta em (Lc. 13. 1).
Uma
questão interessante que alguns dos evangelhos narram é com relação a morte de
João Batista. Pois, a primeira impressão que temos ao lermos este relato é que
a trama arquitetada por Herodíades contra João Batista se reduz a uma questão
moral e intrafamiliar. Todavia, segundo o historiador Flávio Josefo é mais
provável que a execução do mesmo aconteceu porque Herodes temia uma revolta do
povo. Ainda com relação a este fato, se lermos o Evangelho de Mateus notaremos
na fuga de Jesus, este aspecto politico (Mt. 14. 13).
1. 2. Jesus o andarilho
Este
cenário hostil mostra- nos a inteligente estratégia do mestre em circular de
cidade em cidade. Depois de abandonar a sua terra natal, Jesus não teve nenhuma
moradia estável. Com relação a este fato notaremos que os Evangelhos não
escondem esta realidade, percebemos isto quando o mestre se compara a uma ave
sem ninho e a uma raposa sem toca (Lc. 9. 58), mesmo com relatos que digam que
Cafarnaum era a sua cidade (Mt. 9.1; Mc. 2. 1; 9. 32) terá sido antes, pois,
nesta cidade ele realizou coisas importantes, mas, de lá partiu para missões em
outras cidades.
Podemos
dizer que a esta vida missionária peregrina, somam- se razões politicas e
teológicas, ou seja, estratégia de defesa e consciência de levar o evangelho a
mais lugares. Ao assumir a vida de andarilho Jesus abandona a vida de camponês
e artesão.
Com
isto, os seus parentes não querem acreditar nele (Mc. 6. 4; João 7. 5), isto
pode ser devido a sua insistência em não favorece- los financeiramente com seu
dom de curar. Por conta disto chegam á chama- lo de louco (Mc. 3. 21).
Novamente,
percebemos que dois olhares se juntam para entender a Jesus, na perspectiva
familiar e sociocultural, pois, quando surgia alguém com esta habilidade a
família retinha- o em casa com a finalidade de que vindo a multidão em suas
pegadas, a mesma seria beneficiada com o dinheiro recebido. Jesus é contrario a
tal projeto. Ao invés de pautar a sua vida segundo a cultura local, Jesus
rejeita o projeto que proporcionaria certas regalias para ele e sua família e
lança- se na vida de andarilho.
Concluímos
esta parte, considerando quão importante para nós conhecer as raras
peculiaridades sobre a vida do Jesus humano, e podemos dizer que não contradizem
a nossa fé, mas, aproxima- nos de modo concreto e encarnado na vida deste ser
tão Divino, e como Leonardo Boff bem diz: “pra ser tão humano como Jesus, só
pode ter sido Deus”.
1. 3. A propagação do Evangelho depois de
Cristo
Segundo
a Bíblia Jesus se encarnou (João 1. 14) como judeu e viveu na plenitude dos tempos
como judeu e foi condenado como diz o Credo “sob Pôncio Pilatos, e ressuscitou,
sendo visto por testemunhas” (1 Co. 15. 1). Sendo que o primeiro movimento
missionário foi iniciado na Igreja por Paulo e Barnabé, esta iniciativa foi
alvo de muitas tensões por causa do pregação do Evangelho as culturas
gentílicas no mundo romano. Além destas tenções existiram outras, porém não é o
nosso objetivo enumera- las.
Após
este período, no segundo século de nossa era, a mensagem do Evangelho entra em confronto
com a cultura greco- romana, que era a que predominava na época. Isto levou os
teólogos e lideres eclesiásticos cristãos a um longo e duro esforço
intelectual, a fim tornar a mensagem do evangelho significativa para seus
contemporâneos, com o devido cuidado para que o Evangelho não perdesse a
fidelidade ao conteúdo da revelação divina.
Esta
tenção entre evangelho e cultura perpassa toda a história da igreja
especialmente manifesta nas formas de cristandade assumidas pelas Igrejas
cristãs e nos períodos de atuação missionaria, seja protagonizado pela Igreja
Católica Romana (V. Mateo Rissi, Bartolomeu de Las Casas, etc.), seja
protagonizado pelas igrejas protestantes e evangélicas em sua expansão para o Oriente e posteriormente para a América
Latina.
2. 1 Evangelho e cultura
Depois
deste panorama, podemos dizer que a Teologia da Missão tem a tarefa de pensar
sobre a relação histórica entre Evangelho e cultura. Em textos missiológicos
protestantes o presente tema é chamado de contextualização; em textos
missilógicos católicos, tende a ser chamado de inculturação.
Neste
sentido, enquanto servos de Deus e sobreviventes do século XXI que se
interessam pelo processo de evangelização, devemos saber que o cristianismo
durante estes dois milênios de existência enfrentou vários desafios que se
lançaram a sua frente, tendo sempre em vista a dura tarefa de apresentar a
mensagem de Jesus, como o Cristo ressuscitado de uma forma que aqueles que
estavam ao seu redor recebessem esta boa noticia de maneira satisfatória. Desta
forma os servos de Deus tiveram que traduzir a mensagem do evangelho nas
culturas por onde passaram.
Neste
sentido, alguns desafios lançam- se a nossa frente, desafios nos quais
iniciaremos a nossa conversa fazendo uma breve reflexão sobre o que vem a ser
cultura enquanto produto dos seres humanos e consequentemente de nossa
história.
O
conceito do que vem a ser cultura é muito amplo, portanto podemos dizer em
linhas gerais que:
Júlio
Zabatiero, para definir o que vem a ser cultura apropria- se da definição dos
filósofos de Geertz, Thompson, Habermas e diz: cultura é o acervo padronizado de saber e significados, incorporados em
formas simbólicas existentes em relação a contextos e processos historicamente
específicos e socialmente estruturados dentro dos quais, e por meio dos quais,
essas formas simbólicas são produzidas, transmitidas e recebidas.
Gedeon
Alencar faz citação do texto: Evangelho e cultura, da Série Lausanne, que diz
que cultura é:
Um sistema integrado de crenças (sobre
Deus, a realidade e o significado da vida), de valores (sobre o que é
verdadeiro, bom, bonito e normativo), de costumes (como nos comportar, como nos
relacionar com os outros, falar, orar, vestir, trabalhar, jogar, fazer
comércio, comer, trabalhar na lavoura etc.) e de instituições que expressam
estas crenças , valores e costumes (governos, tribunais templos ou igrejas,
família, escolas, hospitais, fabricas, lojas, sindicatos, clubes etc.) que unem
a sociedade e lhe proporcionam um sentido de identidade, de dignidade, de
segurança e continuidade.
Depois
destas definições sobre o que vem a ser cultura, podemos dizer que fica bem claro
para nós o significado deste termo, e podemos concluir que cada civilização tem
a sua cultura própria e que portanto as mesmas devem ser respeitadas. Todavia,
o Evangelho é a mensagem de salvação em Jesus Cristo, o Senhor ressurreto,
mediante a fé, que consiste no perdão dos pecados, na inclusão pelo Espirito
Santo , no povo missionário de Deus e na
esperança.
Estes
dois conceitos tem importantes diferenças, vejamos: 1 o sujeito da cultura é
especifico em um momento determinado; o sujeito do Evangelho é o povo de Deus o qual esta para além das
limitações histórico sociais da humanidade;
2 cada cultura distingui- se uma da outra, enquanto que o Evangelho que
o Evangelho se concretiza historicamente dentro das culturas, conforme a
encarnação de Jesus na cultura judaica no tempo do principado romano; 3 em
outras palavras, o Evangelho não é uma cultura, mas, um conjunto de formas
simbólicas construído através da história em que Deus se revela a humanidade em
uma sociedade especifica (cultura judaica) que culmina no evento Cristo e que
se disseminou em inúmeras cultura ao longo destes dois milênios.
2. 1 Buscando uma nova compreensão para a
missão da igreja
Segundo
C. René Padilha quando falamos em missões sempre pensamos em missões
transculturais, aonde igrejas ou organizações especializadas enviam os seus
missionário para evangelizarem em outros países. No entanto, para ele esta
verdade é apenas parcial, pois para ele este é um projeto para toda a igreja e não
somente para um pequeno grupo.
Ele
abandona a visão tradicional inspirado no movimento missionário moderno a partir
do século 18. Quando se falava em missão, logo se pensava em atravessar
fronteiras geográficas (para ele o fator geográfico é secundário), ou seja, a
única fronteira a ser cruzada é a fronteira entre o que é fé e o que não é. A
missão da igreja tem um alcance regional, local e mundial, começando em nossa
própria casa (Jerusalém). A partir deste ponto ele propõe uma “missão integral”
(buscando resgatar o modelo bíblico de missão) em que todos somos chamados para
este desafio.
Segundo
este autor: “o mundo é um campo missionário e cada necessidade humana é uma
oportunidade de ação missionaria”. A fala deste autor manifesta a sua
preocupação não só com o discurso da igreja, mas também com a prática do mesmo,
pois para ele é desta forma que se manifestará o reino de Deus entre os homens.
Esta
postura com relação ao posicionamento da igreja frente a sociedade foi
consolidado no conhecido Congresso de Lausanne I (suíça) em 1974 com o lema “O
Evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens”.
A
partir deste ponto é que pretendemos convida- lo querido leitor (a) à pensar um
pouco sobre os desafios que estão diante de nós em nosso país, e quais as
posturas teológicas e politicas mais viáveis para buscarmos reagir diante dos
mesmos. No entanto, gostaria de esclarecer que a nossa visão é mais uma entre
milhares visões sobre o tema.
Quem
conhece pelo menos um pouco da história da América Latina e de nosso país, sabe
da realidade tão hostil no qual aconteceu o processo de colonização aonde
milhares de negros (as) e índios (as) foram mortos vitimas dos trabalhos
forçados e do preconceito por parte dos colonizadores (lei dos mais fortes).
Passados mais de quinhentos anos, este mesmo cenário se apresenta a nós, porém,
com outras roupagens.
Ora,
tendo consciência desta realidade, podemos dizer que a nossa América teve quase
todos os seus recursos naturais esgotados, sendo que os mesmos foram parar nas
mãos dos poderosos. Portanto, fica a pergunta: qual é a resposta que o povo de
Deus dá para as vitimas deste país? Uma vez que todos somos vitimas deste
sistema opressor? Foi em meio a uma geração muito parecida com a nossa que os
cristãos da cidade de Antioquia no primeiro século foram reconhecidos como
servos do Cristo (Atos 11, 26). E nós? Será que somos vistos como servos do
Mesmo? Ou a sua mensagem esta ofuscada por causa de nossa falta de iniciativa?
A
resposta da igreja não deve ser somente verbal, com pressupostos espirituais,
mas, existenciais, e que tenham reflexos na realidade de nossas vidas, ou seja,
precisamos de uma teologia que nos deixe com os pés no chão (como os cristãos
de Antioquia, por exemplo).
O que queremos dizer com relação ao termo pés no chão, é
que a nossa espiritualidade, teologia e escatologia tem de ter estar baseada
não só em palavras, mas, em atos, de maneira que os reflexos dos mesmos tornem-
se concretos em nossa realidade. Como diz a Epistola de Tiago 2, 14- 16: 14 Meus
irmãos, que aproveita se alguém tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé
pode salva- lo?
15 E, se os irmãos (ãs)
estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano,
16 E se algum de vós lhes
disser: Ide em paz, aquentai- vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para
o corpo, que proveito virá daí?
17 Assim também a fé, se não
tiver obras, é morta em si mesma (ARC).
As colocações do apóstolo Tiago coloca- nos diante da
questão que queremos discutir: “o ponto de partida da teologia da igreja, tende
promover a mudança social”.
3. 2 Mudança social: um desafio para a
igreja atual
Segundo
o teólogo Harvey Cox, em sua obra “A cidade do homem”, a mudança social deve
ser o ponto de partida da teologia da igreja. Para este autor a igreja a deve
abrir mão de pressupostos teológicos do passado que já não fazem mais sentido
na atualidade, tendo uma abertura para o que Deus esta fazendo na atualidade.
Um bom exemplo do que este autor esta falando é a obra fictícia
do americano Charles M. Sheldon, que foi publicado pela primeira vez em 1896,
“Em seus passos que faria Jesus?” Aonde cristãos da cidade de Raymond, promovem
mudanças extraordinário naquela sociedade. Esta obra trouxe um grande
avivamento espiritual nos EUA no século XIX, que se alastrou pela Europa. E até
hoje continua impressionando cristãos do mundo inteiro.
Retornando a obra de Cox, ele aponta algumas situações
que as igrejas ficaram apáticas diante das revoluções que aconteceram em suas
épocas, por conta do conservadorismo teológico que não as deixavam prosseguir e
dando uma resposta significativa para os seus membros.
Para este autor a igreja deve perceber a ação de Deus na
história, no que diz respeito questões da ética social de cada época e
reformulando sempre as suas estruturas.
Dito isto, ele mostra que precisamos elaborar uma
teologia baseada em nossa época, ou seja, uma sociedade secularizada. Para este autor a cidade
secular pode ser interpretada como símbolo teológico das cidades bíblicas,
aonde a liberdade e a libertação são marcas da mesma (Nova Jerusalém, Cidade de
Deus, Nova Criação). Para o mesmo o símbolo da cidade secular não viola o
símbolo bíblico do Reino de Deus, muito pelo contrario o mesmo além de
corroborar com a visão da cidade secular, ilumina o fermento da mudança social.
Todavia, ele nos alerta que não podemos nos esquecer de
diferenciar a Cidade de Deus, da cidade dos homens, uma vez que já aconteceram
equívocos absurdos como a teologia norte americana do “Evangelho Social” que confundiu o Reino de Deus com as realizações
humanas, com a expressão “construir o
Reino de Deus”.
Neste sentido, a expressão, “o Reino de Deus”, no Novo
Testamento, é manifesto nas palavras de Jesus como a manifestação Dele mesmo,
ou seja, Ele é o representante, a corporificação e o sinal do mesmo.
Para fundamentar a sua tese ele ira propor três ideias
básicas sobre esta afirmação:
Primeira, o Reino, manifesto na pessoa de Jesus
é a revelação mais plena da parceria entre Deus e o homem na história, ou seja,
a luta pela formação da cidade secular é uma forma de responder a esta
realidade em nosso próprio tempo.
Segunda, enquanto o Reino de Deus exige
renúncia e arrependimento, a cidade secular não o faz. A manifestação do Reino
se apresenta na forma de exigência, de renuncia das tradições passadas de
maneira radical, podendo envolver a ruptura dos laços familiares ou o abandono
do dever filial do sepultamento do pai(Mt. 8, 18- 22; Mt. 10, 37- 42; Lc. 9,
57- 62). Porém, é bom salientarmos que o arrependimento no Novo Testamento não
é demasiadamente moralista como comumente é interpretado, mas, um ato de
sacrifício mais preponderante e inclusivo.
Terceiro, relação
entre as duas cidades: Reino de Deus e cidade secular. Uma transcende a
história e a outra esta dentro da mesma. Como interpreta- las do ponto de vista
escatológico? O Reino de Deus já veio ou há de vir no futuro?
Depois de estabelecer estes parâmetros, ele dirá que as
igrejas passam por um processo de catalepsia social e que para sair
deste estado de inercia seria necessário a catarse e a catástrofe.
Esta
forma de paralisia é caracterizada na maioria das teorias revolucionárias como
“hiato catalítico”, para dizer que existe um atraso e que o mesmo precisa ser
eliminado de maneira que a ação requerida seja executada. Ele levanta esta
questão com o objetivo de dizer que precisamos de estratégias que satisfaçam
aos anseios de nossa geração.
Para mostrar esta necessidade de novas estratégias ele
dirá que a nossa sociedade passou por diversas transformações (“a força da
linha de produção, para a era do computador”, “da sociedade industrial para a
sociedade automatizada”) e que a igreja com seus processos políticos e símbolos
religiosos não acompanhou a mesma, refletindo a nossa sociedade pré- técnica.
Ele aponta que a igreja não acompanhou o rápido desenvolvimento da sociedade
tecnológica, tentando por nesta sociedade que esta amadurecendo fraldas
politicas.
Este autor aponta caminhos que já poderiam ter ensejado
este hiato catalítico, como as crises vindas dos trânsitos das massas, no
problema da moradia e no crescimento do desemprego, e que no entanto,
demonstram a nossa incapacidade de enfrentar politicamente este problemas
decorrentes destas mudanças sociais.
Diante destes desafios ele retoma a imagem bíblica do
Reino de Deus, trazida para o símbolo da cidade secular de maturidade e
interdependência, com a finalidade de mostrar que Deus sempre esta a um passo
além do homem, e mostrar que na Bíblia o Reino nunca é manifesto em sua
plenitude, o mesmo sempre esta chegando. A expressão do Evangelho de Marcos: O
tempo esta cumprido e o reino de Deus esta próximo; arrependei- vos e crede no
Evangelho. Ou seja, a Bíblia coloca a época atual na brecha existente entre o
que foi e o que há de ser.
Todavia, temos que ter a consciência que a catalepsia
social existente em nossa sociedade secular geradora da cegueira e da paralisia
que impedem o homem de agir e fechar o hiato, pode ser causada pela nossa
própria negligencia de dizer não aos chamados Deus. Para ele nós muitas vezes
nos comportamos como crianças inseguras, com medo de enfrentar a realidade.
Neste sentido, ele utiliza- se de dois símbolos
utilizados na Bíblia Metanóia e Maturidade com o fim de aproxima- los
do símbolo da catarse.
Metanóia
no Novo Testamento tem a ver com uma mudança muito radical, ou seja, o eu
anterior morre e um novo nasce. E a segunda imagem é a maturidade, que quer
dizer: quando me tornei homem. Estas imagens somadas com as imagens da
secularização, podem ser vistas como um processo de amadurecimento e
responsabilidade.
Ora, o presente autor toma o exemplo de Paulo que não
acreditava que dando um grito os gálatas despertariam de seu transe, mas
acreditava que a nova realidade trazida pela atuação de Deus em Cristo, é o que
os capacitaria a sair do sono, e esta nova realidade era o Reino. Este exemplo
mostra que para qualquer teologia que tenha a pretensão de ser revolucionaria
não pode se iludir pensando que as pessoas mudem suas mentes frente aos
problemas sociais e políticos, somente através de sermões e da leitura de
artigos. Alguma coisa tende se modificar primeiro.
Podemos dizer que para este autor em termos seculares a
catástrofe precede a catarse, e no teológico o Reino precede o arrependimento.
Sendo que, a igreja deve sempre ter uma abertura para o novo. Todavia não
queremos dizer de modo algum que devemos abrir mão de tudo o que construímos em
nome de um entusiasmo ingênuo pelo novo, mas significa que devemos exercer a
nossa mordomia de forma responsável, aonde as praticas antigas devem sempre ser
testadas em bases iguais com as novas, pois o nosso mundo não deixa de se
transformar.
Conclusão
´
Portanto,
temos que ser mordomos responsáveis e maduros, prontos a responder aos chamados
de nossa época, tendo em mente que a catástrofe e a catarse vem repetidas vezes.
Na Bíblia o Reino de Deus vem sempre ao homem exigindo uma nova resposta do
mesmo. Temos consciência que o mundo nunca está plenamente humanizado devendo
sempre estar nos convertendo. A igreja deve exercer o
papel de ser um sinal de salvação que sinalize enquanto movimento profético os
instrumentos que desumanizam e oprimem os homens.
http://www.dicionarioinformal.com.br/triunvirato/O
triunvirato,
em suma, é um governo formado por 3 representantes: acessado em 06/02/ 2012.