Algumas considerações
Ano de 2011, tempo de festa para o movimento pentecostal no Brasil, este é um momento de muito orgulho para aqueles que fizeram e fazem parte desta história em nosso país. Neste ano foi comemorado o centenário das Assembleias de Deus no Brasil, data esta que os ventos do Espirito Santo vindos dos EUA, sopraram em nosso país (Atos dos Apóstolos 2).
Desde a sua vinda ao Brasil em 1910 com Luigi Francescon (fundador da Congregação Cristã do Brasil) e depois em 1911, com as figuras ilustres dos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg (fundadores da Assembleia de Deus), o pentecostalismo apesar das dificuldades de seus primeiros anos em nosso país, teve nas ultimas décadas uma arrancada extraordinária em nosso país (principalmente a partir da década de 50), no que diz respeito ao seu crescimento numérico (isto vem sendo comprovado pelos vários sensos que foram realizados nos últimos anos).
Em meio a esta visão panorâmica, o pentecostalismo para se legitimar como instituição religiosa em nossa sociedade, teve que tomar algumas atitudes frente a nossa cultura, optando por uma postura negativa diante dos valores culturais e sociais de nossa sociedade, preferindo o isolamento. Com esta postura frente à cultura, a pregação do movimento pentecostal foi neste primeiro momento, voltada para os pobres, com uma teologia muito voltada para a questão escatológica (pré- milenismo).
Ora, o movimento pentecostal atualmente é muito forte em nosso solo pátrio, principalmente com a chegada das igrejas neopentecostais, na década de 70, isto fez que surgissem milhares de igrejas com tonalidades e cores diferentes (reflexos da reforma protestante). Hoje até cogita- se a possibilidade do Brasil daqui a alguns anos ser um país evangélico.
Depois de traçar estas linhas, gostaríamos de fazer algumas considerações pessoais:
- o pentecostalismo apesar de todas estas conquistas que foram alcançadas aos longos dos anos, acabou se tornando uma instituição adoecida pelo poder. É uma vergonha saber que desde o começo desta instituição em nosso país, pastores que deveriam estar lutando pelo bem estar de suas ovelhas, estiveram se esbofeteando para ver quem assume os lugares mais altos em suas instituições. Isto ficou patente nas brigas insanas que passaram na televisão entre os pastores das Assembleias de Deus, para ver quem tinha mais autoridade para celebrar a festa do centenário;
- uma segunda questão seria sobre a construção dos mega templos. Se levarmos em consideração os anos de sofrimento e opressão que viveram os pentecostais em nosso país, alguém poderia dizer: é mais que merecido termos igrejas bonitas. Todavia, a minha preocupação não se limita ao fato de termos ou não termos belas igrejas, mas é que me parece que a denuncia feita pelos teólogos, filósofos e sociólogos da religião, que o sagrado tem se tronado mercadoria, e que este grande investimento em grandes templos não é mais que a simples comprovação deste fato;
- outra questão que a meu ver é fundamental para a igreja e que merece ser tocada é: uma espiritualidade sadia. Digo isto, porque vejo que muitos cristãos esqueceram dos princípios bíblicos que (diga- se de passagem) deveriam nortear a nossa espiritualidade (devoção e entrega a Deus), escolhendo o caminho da barganha. No entanto, sabemos que este caminho é a contramão do evangelho bíblico, pois, muitos crentes pensam que conseguiram o que precisam através da chantagem, sendo que Deus torna- se refém desta relação. Portanto, eu vos convido para retornarmos as nossas fontes de fé (neste sentido queremos nos basear na teologia reformada “sola scriptura”, ou seja, somente as escrituras) e meditar no texto bíblico, não com a nossa leitura neo- pentecostal viciada, mas buscarmos reflexões mais profundas a ponto de deixarmos a mesma (Bíblia) tocar no mais profundo de nossas almas e nos surpreender com a sua riqueza espiritual;
- em ultimo lugar gostaria de dizer que devemos pregar uma escatologia mais consciente, ou seja, mais pé no chão. Quando digo uma escatologia pé no chão, quero dizer uma teologia que esteja mais envolvida com os dramas da vida e da história. Nós brasileiros que vivemos um passado de escravidão e opressão, devemos pregar um evangelho que não esteja ligado somente com as coisas celestes, mas que traga esperança e novos significados para a vida dos seres humanos (ver Ev. João 17. 15- 19). Nós não devemos nos esquecer que Jesus não somente pregou um evangelho para uma outra vida(Ele baseou a sua mensagem na tradição profética do A. T.), mas pregou uma mensagem que valorizava o órfão e a viúva, trazendo dignidade para os excluídos de sua época, etc...
Depois de fazer estas considerações, alguém pode até achar que minha interpretação seja um pouco radical demais, mas eu lhes garanto que as minhas intenções são as melhores possíveis com relação ao pentecostalismo. O meu objetivo com esta leitura é mostrar que talvez devamos repensar algumas questões relacionadas à nossa fé, e quando eu digo repensar, não estou querendo dizer que devemos abrir mão de nossas convicções (como a nossa escatologia, por exemplo), mas que devemos sim como igreja do Senhor, buscar meios de pregarmos um evangelho libertador em um mundo cercado de redes opressoras.
Agora talvez o leitor esteja se perguntando: e para que lugar estamos caminhando? Que é a proposta deste texto, pensar possíveis caminhos para o pentecostalismo em nossa nação. Uma vez que fazemos parte da história desta igreja, que costumamos chama- la de “protestante”, (apesar de muitos pentecostais não gostarem ser chamados desta forma), no entanto, a máxima tillichiana cabe a nós: “igreja reformada sempre se reformando”.
Gostaria de finalizar esta reflexão, dizendo que apesar de o pentecostalismo ter riquezas que merecem ser repensadas, outras na minha opinião devem ser abandonadas, como a busca desenfreada pelo poder por parte de muitos pastores, a construção de mega templos (igreja não são as pessoas? Por que não investir nelas?) , e abandonar esta espiritualidade de recompensas. Afinal de contas nós queremos ser a manifestação de Cristo na terra e não do anticristo, não é verdade?